Uma rápida história do Tarot
A expansão do uso dos jogos de cartas na Europa pode ser estimada por volta de 1377, a partir de quando as cartas de tarô parecem ter-se desenvolvido por volta de quarenta anos depois, e são mencionadas no que sobreviveu do texto de Martiano da Tortona. Estima-se que o texto tenha sido escrito entre 1418 e 1425, uma vez que o pintor Michelino da Bezzoso retornou a Milão em 1418 e o autor faleceu em 1425.
Feliciano Bussi na sua historia de “Viterbo” refere o uso de baralho de cartas em 1379, vindo através dos sarracenos e ao qual se dá-se o nome de naib. Na Espanha, no ano de 1367, encontramos também esse tipo de cartas descritas com o nome de naipe. Pensa-se que a palavra naipe tenha surgido da palavra flamenga knaep, palavra esta derivada de papel.
A primeira grande publicidade acerca do uso divinatório do tarô veio de um ocultista francês chamado Alliette, sob o pseudônimo de "Etteilla" (seu nome ao contrário), que atuou como vidente e cartomante logo depois da Revolução Francesa. Etteilla desenhou o primeiro baralho esotérico, adicionando atributos astrológicos e motivos "egípcios" a várias cartas, elementos alterados do Tarô de Marselha, e incluíndo textos com significados divinatórios escritos nas cartas. Mais tarde Mademoiselle Marie-Anne Le Normand popularizou a divinação durante o reinado de Napoleão I, pela influência que exercia sobre Josefina de Beauharnais, primeira esposa do monarca. Contudo, ela não usava o tarô típico.
Desde então as cartas de tarô são associadas ao misticismo e à magia. O tarô não foi amplamente adotado pelos místicos, ocultistas e sociedades secretas até os séculos XVIII e XIX. A tradição começou em 1781, quando Antoine Court de Gébelin, um clérigo protestante suíço, e também maçom, publicou Le Mond Primitif, um estudo especulativo que incluía o simbolismo religioso e seus remanescentes no mundo moderno.
Antoine Court Gebelin, escreveu em 1781: “Pensa-se que toda a sabedoria antiga foi destruída quando a grande biblioteca de Alexandria foi queimada. Não foi, porém, assim. Há um livro, que foi passado de mão em mão, e, com ele, muitos segredo dos antigos. Está escrito em setenta e oito folhas, divididas em cinco secções.” ( T. Milénio; pág. 6 e 7 )
Gebelin estava sem dúvida a referir-se ao Tarot. Para Gebelin, as vinte e duas cartas dos Arcanos Maiores representavam os líderes temporais e espirituais da sociedade egípcia antiga. As outras cinquenta e seis cartas eram divididas em quatro naipes, referentes às quatro classes da sociedade do Antigo Egipto. Tanto os reis como os militares ostentavam a espada (naipe de espadas), a taça simbolizava os sacerdotes, (naipe de copas), os paus eram o símbolo correspondente aos agricultores (naipe de paus) e as moedas representavam os comerciantes (naipes de ouros).
Gebelin primeiro afirmou que o simbolismo do Tarô de Marselha representava os mistérios de Ísis e Thoth. Gébelin também afirmava que o nome "tarot" viria das palavras egípcias tar, significando "rei, real", e ro, "estrada", e que por conseguinte o tarô representaria o "caminho real" para a sabedoria. Dizia o autor que os ciganos, que estavam entre os primeiros a usar o tarô para uso divinatório, eram descendentes dos antigos egípcios (daí a semelhança entre as palavras gypsy e Egypt, em inglês, mas isso na verdade é um estereótipo para qualquer tribo nômade), e introduziram as cartas na Europa. De Gébelin escreveu esse tratado antes de Jean-François Champollion ter decifrado os hieróglifos egípcios, ou de fato ter sido descoberta a Pedra de Roseta, e, mais tarde, os egiptólogos não encontraram nada que corroborasse a etimologia fantasiosa de Gébelin. Apesar disso, a identificação do tarô com o "Livro de Thoth" já estava firmemente estabelecidas na prática ocultista e segue como uma lenda lenda urbana até os dias de hoje.
No entanto, as cartas de Tarot também poderão ter sido trazidas pelos Cruzados, no regresso da Terra Santa no século XIV. Há quem defenda a teoria de que foram os próprios templários a inventar as cartas do Tarot, uma ordem de cavalaria guerreira e asséptica formada por Cruzados por volta do ano de 1118, sob a chefia de Hugh de Payen.
A concepção de que as cartas são um código místico foi mais profundamente desenvolvido por Eliphas Lévi (1810-1875) e foi difundida para o mundo pela Ordem Hermética da Aurora Dourada. Lévi, e não Etteilla, é considerado por alguns o verdadeiro fundador das modernas escolas de Tarô. Sua publicação Dogme et Rituel de la Houte Magie ("Dogma e Ritual da Alta Magia"), de 1854, introduziu uma interpretação das cartas que as relacionava com a Cabala Hermética. Enquanto aceitava a origem egípcia do tarô proposta por Court de Gébelin, o autor rejeitava as inovações de Etteilla e seu baralho alterado, e por sua vez delineava um sistema que relacionava o tarô, especialmente o Tarô de Marselha, à Cabala Hermética e aos quatro elementos da alquimia.
Papus, ocultista e médico francês, a sabedoria da antiga Índia e Egito tinha a síntese do Tarô. Foi fundador da Ordem Maçônica dos Martinista, escreveu o livro “O Tarô dos boêmios” e fez um baralho com inspiração egípcia e correspondendo com as letras hebraicas.
O tarô divinatório era cada vez mais popular no Novo Mundo a partir de 1910, com a publicação do Tarô de Rider-Waite (elaborado e executado por dois membros da Aurora Dourada), que substituía a tradicional simplicidade das cartas numeradas de naipe por cenas simbólicas. Este baralho também obscureceu as alegorias cristãs do Tarô de Marselha e dos baralhos de Eliphas Lévi mudando alguns atributos (por exemplo trazendo "O Hierofante" no lugar de "O Papa", e "A Alta Sacerdotisa" no lugar de "A Papisa"). O Tarô Rider-Waite ainda é muito popular no mundo anglófono (de língua inglesa).
Desde então, um número enorme de baralhos diferentes tem sido criado — alguns tradicionais, outros vastamente diferentes. O uso divinatório do tarô, ou como um compêndio simbológico, inspirou a criação de inúmeros baralhos oraculares. São baralhos para inspiração ou divinação contendo imagens de anjos, fadas, deuses, forças da natureza etc. Embora obviamente influenciados pelo tarô, eles não seguem sua estrutura tradicional: algumas vezes omitem ou trocam alguns dos naipes, outras vezes alteram significativamente o número e a natureza dos arcanos maiores.