Uma arte de tradição milenar, a mágica atravessa os séculos reinventando suas próprias técnicas. Entre jogos visuais e mentais, os mágicos surpreendem gerações de platéias com habilidades. Conheça um pouco deste universo nesta entrevista com Leonardo Martins.
Físico por formação, Leonardo se interessa por estudos diversos, que passa pela hipnose, psicologia e linguagem corporal. O resultado deles você pode perceber em sua apresentação. Qual sua definição de arte?
A arte é tudo aquilo que é produzido para gerar emoções. O desafio é gerar na platéia a emoção que queremos. A questão é que a emoção é estática, e ela se esvai rapidamente. É preciso conduzir de uma emoção para outra, e isso só é possível com o confronto. No caso da mágica, o confronto com a realidade.O que você considera como mágica? E mentalismo?
Mágica é a promessa do impossível. É a capacidade de levar o público a um outro mundo. O mentalismo é uma corrente de mágica que vai para o lado oposto do ilusionismo. No ilusionismo a mágica é visual, ocorre o desaparecimento, transformação, e o aparecimento de coisas que pela nossa percepção seria impossível. No mentalismo tudo acontece na mente das pessoas. É uma mágica que exige um público mais atento e concentrado. Por isso não dá para fazer com crianças.
Que tipo de critérios você usa para construir o seu trabalho como artista?
Entretenimento sofisticado. Eu respeito o meu público. Todos sabem que é tudo um truque, mas o momento é real: o momento é mágico. Procuro desenvolver um material que descontrua a realidade, pelo menos naquele momento, levando o público a um outro mundo, a um mundo em que o impossível é possível.
Como se aproximou desta arte?
Com os livros do Paul Ekman, um psicólogo americano que escreveu livros sobre a leitura das expressões da face. Descobri que poderia ser divertido elaborar pequenos jogos com isso. Mas a minha grande inspiração foi ver o mágico mentalista Derren Brown. Ele me mostrou uma nova maneira de ver a mágica.
O que você leva da sua personalidade para compor o mágico Leonardo Martins?
Tenho muito da persona do palco. Eu fumo cachimbo e não gosto de todo tipo de música. Sou muito do que mostro no palco. Me identifico com a mágica vitoriana, por isso busco aquela elegância antiga, típica de apresentação de teatros da época.
No Brasil, a mágica ficou restrita durante muito tempo às apresentações circenses, você considera que há espaço e público para o seu tipo de trabalho fora do circo?
O brasileiro é um povo muito aberto à cultura. Quando se mostra algo novo de qualidade, sempre há um novo espaço.
E o cenário internacional, como os mágicos são percebidos em outras culturas?
Existem muitos lugares, com visões diferentes para os mágicos. Nos EUA existe uma cultura de entretenimento mais visual, show business. Na Europa a mágica tem um caracterização mais de arte. No Brasil ainda somos poucos, e o público de maneira geral ainda não conhece o trabalho.
Muitas pessoas ainda tem o mágico dentro de uma visão clichê: um cara de cartola, gravata borboleta, varinha, fraque que tira coelhos da cartola, faz truques com o baralho etc... Você acha que esse tipo imagem reforça, prejudica ou contribui para a valorização desta arte?
Todo novo conhecimento humano é construído em cima de um conhecimento anterior. Mas faz parte da vida a mudança. E não só estamos prontos para ela, como sempre a desejamos. É preciso dar o que o público quer, mas não da maneira que ele espera. O óbvio também não agrada: Queremos ser surpreendidos. Há espaço para todos, assim como nas outras artes.
O que você espera que o público perceba do seu trabalho?
Que existe todo um mundo sobre nossa mente e percepção a ser descoberto. Que sou dedicado e adoro o que faço.
Qual a sua maior satisfação como mágico? E a maior dificuldade?
O público conhece a verdade: o mundo é feio, sujo e injusto. Mas se você por alguns segundos conseguir levar essas pessoas a um outro mundo, em que existe o belo e que podemos acreditar no impossível, então eu consegui por um breve momento tira-las de tudo isso. Minha maior satisfação é ver em seus rostos que estão neste outro mundo. Isto para mim é entretenimento. A maior dificuldade é um público sem imaginação. Preso a um mundo diferente do que eu quero levar.
Se pudesse vislumbrar a mágica daqui a 100 anos, como acha que ela vai estar? Vai sobreviver as novas formas de entretenimento?
É natural a mudança, mas sempre existirão novas visões sobre uma arte, e pessoas que insistem em fazer a maneira antiga, e isso é ótimo. Como vai ser a mágica no futuro? Não sei. Mas uma coisa é certa: sempre haverá quem quer ser surpreendido e transportado para o belo, e com isso, sempre haverá mágicos.